Natália Mayara:
Natália Mayara: "Tênis é uma base da minha vida" 07 Jan 2013

A história da pernambucana Natália Mayara no tênis começou devido a um acidente. Atropelada por um ônibus quando tinha apenas 2 anos, ela perdeu as duas pernas, cresceu usando a cadeira de rodas e dez anos depois descobriu que poderia jogar tênis em cadeira de rodas. Hoje ela é o grande destaque do Brasil na modalidade, tendo disputado uma Paraolimpíada em Londres e é a 29ª do mundo no ranking mundial da ITF, tudo isso com apenas 18 anos.

 

Depois de receber pela segunda vez o Prêmio Tênis, ela concedeu entrevista exclusiva ao site oficial da CBT e contou um pouco mais sobre a sua história, suas inspirações e a publicidade, curso que estuda na universidade simultaneamente ao esporte.

 

Em 2012 você disputou sua primeira Paraolimpíada e ganhou novamente o Prêmio Tênis. Qual o balanço que faz da temporada?

 

Esse ano para mim foi um ano incrível, um ano de muitas conquistas, fechando agora com chave de ouro com o Prêmio Tênis. A experiência de estar vivendo isso com 18 anos é melhor ainda, dá sempre um gostinho de quero mais saber que eu tenho mais tempo pela frente e querer chegar lá jovem ainda, dar o meu máximo para entrar entre as 10 do mundo. É muito emocionante para mim saber disso.

 

Como foi o seu início no tênis em cadeira de rodas?

 

Comecei a jogar com 12 anos. Mas eu treinava uma vez ou outra mais por diversão. Agora mais para os 14 anos foi que eu comecei a me dedicar mais. Eu treinava sempre com o Wanderson e como ele já é técnico da seleção, eu sempre tive muito contato com todo mundo. Eu treinava de vez em quando com o Jordan (Carlos Santos), com a Rejane (Cândida) e isso foi me inserindo cada vez mais, fui pegando experiência, aprendendo um pouco com cada um e absorvendo a parte boa.

 

Quem é sua inspiração no tênis?

 

Tem duas pessoas que me inspiram muito. A Esther, que tem essa invencibilidade toda dela e eu tento sempre estar buscando o porquê disso tudo, achar o que faz dela tão boa para tentar fazer parecido, e o Nadal também porque eu acho incrível a garra que ele tem dentro de quadra, a força e a vontade de ganhar que ele tem.

 

Você já acompanhava o tênis antes?

 

Eu fui conhecer o esporte justamente quando comecei a fazer. Na verdade eu comecei com natação, também aos 12 anos, então fui conhecer muito tarde, se não eu teria começado antes até. Eu não tinha muito conhecimento desse esporte adaptado, nem nada. E também por ser muito nova eu não buscava muito o esporte.

 

Como você perdeu as pernas? Sofreu algum acidente?

 

Com dois anos de idade eu fui atropelada por um ônibus na parada de ônibus quando morava em Recife, eu sou de Recife. Muita gente pergunta quais foram as dificuldades, eu agradeço a Deus por não ter tanta, porque como eu era muito pequena, já aprendi a andar em uma prótese, eu já conheci a cadeira de rodas, então esse mundo sempre foi meu. Eu sempre vivi nisso e nunca tive dificuldades para adaptar, gostar muito de uma coisa, nunca passei muito por essa fase graças a Deus.

 

O esporte ajuda nesta parte de adaptação, certo?

 

O esporte ajuda demais, não só nessa parte de querer ser melhor, mas muitas coisas pequenas ao redor que as vezes você nem percebe. Eu era muito tímida e me ajudou muito a me abrir mais, estou até fazendo publicidade agora. Eu não conseguia manter meu foco por muito tempo em alguma coisa e já estou conseguindo isso, na faculdade está me ajudando bastante.

 

O que você está cursando na universidade?

 

Estudo publicidade. Eu sempre me envolvi muito com filme, com imagem, com foto. Eu sempre gostei muito  de editar, criar, sempre gostei de ver o que eu pensei projetado, para fora. A publicidade tem muito disso, de criar, de pensar uma coisa diferente de todo mundo, e isso é uma coisa que me chama a atenção.

 

O que é o tênis para você?

 

Tênis é uma base da minha vida hoje. Eu estou conquistando tudo através do tênis, através do esporte. Uma boa faculdade, um conhecimento mais amplo, conhecer outras culturas, outras línguas. Isso mexe muito comigo, o tênis me fez uma pessoa mais focada, mais dedicada. É a minha base hoje em dia.

 

A Paraolimpíada mudou muito a sua visão do esporte?

 

Mudou completamente. A partir da Paraolimpíada eu pude perceber mais o quão profissional é isso tudo no meio que eu estou inserida mesmo. Eu pude jogar com a número 3 do mundo, então isso me dá vontade de chegar nela, de um dia jogar com ela novamente e ganhar. Voltar naquela paraolimpíada e ganhar uma medalha, isso é muito importante para mim.

 

Você lamentou enfrentar uma favorita e não poder ir mais longe ou aproveitou a experiência na Paraolimpíada?

 

Eu usei muito como experiência, porque não é sempre que a gente tem essa oportunidade de estar jogando com a número 3 do mundo. Eu tomei muito como experiência, fui sempre pensando em dar o meu melhor, sem pensar que perdi, nem nada. Comecei ganhando, mas depois como é natural ela mostrou a superioridade dela. Mas eu estou chegando lá, chegando perto. Só tenho 18 anos e tenho muito chão pela frente.

 

Qual é o seu sonho no esporte?

 

São vários. Eu não conto muito, mas a partir do momento que eu fui para Londres, não consegui tirar da cabeça a vontade de ganhar uma medalha em uma Paraolimpíada. Por isso que eu falo que voltei muito mais motivada e com a cabeça muito mais focada nos treinos porque eu quero ganhar essa medalha.

 

Como você vê o apoio ao esporte paraolímpico?

 

Eu tenho pouco tempo de tênis, mas nesse pouco tempo pude perceber uma grande evolução, principalmente no tênis. O investimento está sendo dobrado, eu tive apoio desde o começo da Confederação, tudo direitinho, até porque eu era jovem e eles tentaram investir em mim para eu ser o que sou hoje.